Academia de Inteligência Emocional

​Como é o cérebro de quem tem o hábito de mentir.
O cérebro de quem tem o hábito de mentir funciona de maneira diferente.
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A desonestidade é parte integrante do nosso mundo social, influenciando domínios que vão desde as finanças e política às relações pessoais. Quando alguém mente repetidamente deixa de ter uma resposta emocional às suas próprias falsidades. Assim, perante uma ausência de sentimentos, esta prática torna-se mais fácil e torna-se um recurso habitual. Perante isto, os neurologistas chegaram à conclusão de que o cérebro de quem tem o hábito de mentir funciona de maneira diferente, afirmando que são mentes habilmente treinadas para esse fim.
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Uma das características do cérebro humano é a sua plasticidade, por isso não é estranho saber que mentir é uma habilidade como qualquer outra, e que, para manter um bom nível de excelência, basta praticar diariamente.
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«Uma mentira pode salvar o presente, mas condena o futuro».
Buda
O campo da psicologia e da sociologia sempre se interessou pelo mundo das mentiras e do engano, no entanto, nas últimas décadas, devido ao avançar das técnicas de investigação, tem sido a neurociência a dar mais informações neste campo. Dizer que a personalidade desonesta é resultado de treino e da contínua habituação, é possível que surpreenda as pessoas, mas a ciência tem evidências disto.
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Quem tem o hábito de mentir percebe a desonestidade egoísta como moralmente errada e relata mal-estar quando se envolve em tal comportamento. No entanto, quando as pessoas enganam, as investigações observaram uma excitação emocional, havendo consistência entre os relatos, as medidas fisiológicas e neurológicas.
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Quem começa com pequenas mentiras e faz delas um hábito, induz o cérebro a um estado progressivo de dessensibilização. Assim, o que começa como pequenos desvios de um código moral pode transformar-se em grandes desvios com consequências potencialmente danosas.

O cérebro de quem tem o hábito de mentir e a amígdala
A maioria de nós é surpreendida por certos comportamentos de pessoas da esfera pública que fazem parte do nosso dia-a-dia. Vemos, por exemplo, alguns políticos agarrados às suas mentiras, defendendo a sua honestidade e normalizando actos que por si mesmos são altamente repreensíveis e até mesmo criminosos. Será que estes comportamentos fazem parte da classe política ou da biologia humana?
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Tali Sharot, professora de neurociência cognitiva na University College London, diz que existe de facto uma componente biológica, mas também um processo de treino. A estrutura cerebral que está directamente relacionada a estes comportamentos desonestos é a amígdala.
O cérebro de quem tem o hábito de mentir realmente passa por um processo sofisticado de auto-formação, acabando por dispensar toda a emoção ou culpa. Na revista Nature Neuroscience, há um artigo muito completo, publicado em 2017, onde isto é detalhado.
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No entanto, e para entender melhor, daremos um exemplo. Imagine um jovem que chega a uma posição de poder numa empresa. Para transmitir liderança e confiança aos seus colaboradores, recorre a pequenas mentiras. Estas dissonâncias, estes pequenos actos de moralmente questionáveis fazem a nossa amígdala reagir. A amígdala, uma pequena estrutura do sistema límbico relacionada com a nossa memória e reacções emocionais, é o que limita o grau em que estamos dispostos a mentir.
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Este jovem acaba por transformar o uso de mentiras num recurso constante. O seu trabalho na empresa é baseado no uso permanente e deliberado do engano. Quando esta abordagem é habitual, a amígdala pára de reagir, cria tolerância e deixa de emitir qualquer tipo de reacção emocional. O sentimento de desonestidade e mal-estar desaparecem.
Mentir faz o cérebro funcionar de uma maneira diferente
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Aquele que mente precisa de duas coisas: memória e frieza emocional. Isto é o que nos diz um dos livros mais completos sobre o cérebro de quem tem o hábito de mentir: "Porque mentimos... especialmente para nós mesmos: A ciência do engano”, do professor catedrático Dan Ariely.
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Uma investigação conduzida pelo próprio Dr. Ariely, revelou que a estrutura cerebral de quem mente patologicamente tem menos 14% de substância cinzenta. No entanto, tem entre 22% e 26% mais substância branca no córtex pré-frontal. O que significa isto? Que o cérebro de quem tem o hábito de mentir estabelece muito mais conexões entre as suas memórias e as suas ideias. Esta maior conectividade permite-lhes dar consistência às suas mentiras e acesso mais rápido a estas associações.

Todos estes dados dão uma pista sobre como a desonestidade se desenvolve a partir de dentro, através de processos cognitivos que gradualmente adquirem maior resposta à medida que os praticamos e como o nosso cérebro também deixa de adicionar o componente emocional a estes actos.
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O Dr. Airely refere que o facto de a amígdala deixar de reagir a certos factos revela que estamos a perder aquilo que, de alguma forma, nos torna humanos. Quem já não consegue ver que as suas acções têm consequências sobre os outros, perde a sua nobreza, a bondade natural que supostamente nos deveria definir a todos.
O cérebro de quem tem o hábito mentir, impulsionado por questões em benefício próprio, é moldado por um conjunto de motivações que podem ser consideradas pouco morais. Por trás de uma pessoa que escolhe fazer da mentira o seu modo de vida, pode haver uma série de objectivos muito específicos, desde desejo de poder, status, domínio, interesse pessoal, sendo a sua ideologia, nesses momentos, priorizar os seus interesses acima dos dos outros.
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Tradução livre e adaptada dos artigos feita por Sara Ribeiro:
https://lamenteesmaravillosa.com/el-cerebro-de-un-mentiroso-funciona-de-manera-diferente/